Fonte: tvi.iol.pt
De há alguns anos a esta parte, tem-se vindo a registar um sentimento de crescente
distanciamento de amplos sectores da sociedade portuguesa relativamente à
classe política, facto que se tem reflectido no aumento progressivo dos valores
da abstenção em actos eleitorais.
Com efeito, o fosso que separa os eleitores daqueles que elegeram para os
representar vai sendo cada vez maior, acabando por gerar um sentimento de desconfiança
e descrença generalizadas dos cidadãos relativamente à política e aos
políticos.
Tal como referi este ano no Discurso pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP na
Sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Vila Real, no dia 25 de Abril,
essa atitude embora não sendo desejável, é totalmente compreensível, visto que
em muitas ocasiões os cidadãos não se sentem devidamente representados.
Um tal fenómeno, transversal a todo o espectro político, deveria ser objecto
de uma séria e profunda reflexão da classe política portuguesa no seu todo, com
particular destaque para as estruturas partidárias e respectivas lideranças.
Frequentemente, os portugueses assistem atónitos a episódios de pequena
política, a jogadas de bastidores e a guerras partidárias que em nada
contribuem para a paz social e para o progresso económico de Portugal. Em muitas
ocasiões, esses episódios resumem-se a atitudes de mero calculismo político dos
líderes partidários, factos que a opinião pública vai percepcionando cada vez
mais como negativos para o país, uma vez que os jogos e interesses partidários,
regra geral, prevalecem sobre o interesse nacional, quando deveria ser
exactamente o contrário.
A recente crise política,
desencadeada com a demissão do Ministro de Estado e das Finanças Vítor Gaspar,
e agravada com o inesperado pedido de demissão do também Ministro de Estado e Ministro
dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas, não está a ser bem acolhida pela sociedade
portuguesa nem pelas instâncias internacionais responsáveis pelo programa de
assistência financeira a Portugal.
Após dois anos de intensos
sacrifícios que têm sido pedidos aos portugueses pelo Executivo PSD-CDS-PP e a
que os portugueses têm dado uma resposta positiva, por acreditarem que esses
sacrifícios são necessários para ajudar a tirar o país do caos financeiro
herdado da gestão irresponsável dos Executivos socialistas, nada faria antever
que o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, cuja actuação tem sido determinante
e decisiva na diplomacia económica do actual governo de coligação, viesse agora
pedir a sua demissão ao Primeiro-Ministro, aparentemente, por divergências
políticas relativamente à condução da Dra. Maria Luís Albuquerque como
sucessora de Vítor Gaspar na pasta das Finanças.
A atitude, a meu ver,
precipitada do pedido de demissão do Dr. Paulo Portas, desencadeou de imediato
um sentimento de desconfiança nos credores internacionais, fazendo disparar os
juros da dívida e provocando enormes perdas nas empresas cotadas no PSI-20.
Tal como afirmava ontem à
imprensa Filipe Anacoreta Correia: "Esta
decisão do doutor Paulo Portas é uma decisão irreflectida, incoerente e
totalmente irresponsável” (…) Acho que nós temos que fazer todo o esforço para
pôr o país acima do partido e as circunstâncias pessoais de cada um
subordinadas ao interesse do partido e ao interesse do país. Foi assim que o
doutor Paulo Portas sempre afirmou que faria e é isso que nesta altura nós
temos também que fazer". Recordo que Filipe Anacoreta Correia é o primeiro
subscritor da Moção “Alternativa e Responsabilidade” a apresentar ao XXV
Congresso do CDS-PP que terá lugar nos próximos dias 6 e 7 na Póvoa de Varzim.
A acrescer à
recente crise política no seio da coligação no Governo, os portugueses assistem
ao líder do Partido Socialista, numa atitude totalmente irresponsável e de
calculismo político, a apelar à realização de eleições legislativas antecipadas,
sabendo ele que uma tal solução pode conduzir Portugal a uma situação idêntica
à da Grécia.
Desenganem-se pois
aqueles que ainda acreditam nas palavras falaciosas do líder do PS que, à falta
de ideias concretas para o País, tenta iludir os portugueses com promessas vãs
que, em resultado do programa de assistência externa, sabe que não poderá
cumprir.
Seria desejável
que a crise política no seio da coligação no Governo fosse solucionada com a maior
brevidade, de forma responsável e com elevado sentido de Estado, pelos responsáveis
dos dois partidos da coligação, a bem dos superiores interesses de Portugal e
de todos os portugueses.
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