31 de julho de 2012

Barca Velha - 'uma das glórias do Douro é obra de génio e uma obra de cultura'

Fonte: wook.pt
  
  Aproveito a ocasião deste último reparo antes de regressar em Setembro para recomendar-lhe para leitura de férias o livro Barca Velha - Histórias de um vinho, publicado em Maio deste ano e editado pela Oficina do Livro.

   Ao assinalar-se em 2012 o 60º aniversário da primeira colheita declarada Barca Velha em 1952, Ana Sofia Fonseca, autora da obra Barca Velha - Histórias de um vinho, conduz o leitor com a sua escrita agradável e fluente, mas simultaneamente intimista, até ao mundo do famoso e lendário vinho Barca Velha criado pela vontade, pela determinação e pelo génio de um homem: Fernando Nicolau de Almeida.

   Com base numa pesquisa jornalística minuciosa realizada em finais de 2003 e 2004 e em 2010 e 2011, e também fruto do precioso contributo de muitos testemunhos, a autora conta-nos as “histórias que fazem a história do Barca Velha”.

   Transportando-nos até ao século XIX, ela relata-nos as origens remotas do Barca Velha na Quinta do Vale Meão, criada pela determinação e tenacidade de D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha que arrematou baldios do Monte Meão, no concelho de Foz Côa em 1877 e dez anos mais tarde iniciou o cultivo de vinhas na Quinta do Vale Meão.

   A propósito deste lendário vinho que é declarado em anos realmente excepcionais, razão pela qual nos últimos 60 anos saíram apenas 17 colheitas Barca Velha, Francisco José Viegas refere-se-lhe com respeito e admiração como se pode depreender das suas palavras no prefácio da obra:  “ O Barca Velha faz parte daquilo que o Douro não pode dispensar. Mais do que isso: é uma das glórias do Douro, só possível com essa contribuição de homens como os Nicolau de Almeida, os Soares Franco – a eles devemos a construção de uma mitologia danada, inscrita nas águas do rio dos milagres e nas tentações de quem ama verdadeiramente o seu ofício. (…) O Barca Velha, com o seu rasto de afrontas ao país pequenino e vulgar (ultrapassando-o, humilhando-o, e à sua mediocridade), é obra de génio ( …) Na sua história está a história de uma paixão pelo vinho e de uma obra de cultura (…)    A nossa alma tem uma enorme dívida de gratidão para com os seus criadores”.

   Boa leitura e boas férias!

19 de julho de 2012

D. Januário Torgal Ferreira e as desconcertantes e polémicas declarações à TVI

   
   “O Governo é profundamente corrupto”; “Eu não acredito nestes tipos, em alguns destes tipos, porque lutam pelos seus interesses, têm o seu gangue, têm o seu clube e pressionam a comunicação social”; “O anterior Governo, que foi tão atacado, era composto por um conjunto de anjos, ao pé destes diabinhos negros que acabam de aparecer”.

   Depois de ouvir estas polémicas afirmações, transcritas do sítio PT Jornal, Plataforma de Comunicação, o ouvinte pensará certamente que as mesmas terão sido proferidas por algum socialista ou até mesmo por um comunista indignado com certas medidas do actual governo PSD-CDS.

   Talvez fique estupefacto se lhe disser que foram proferidas por D. Januário Torgal Ferreira, actual Bispo das Forças Armadas.

   Reputo de indecorosa a linguagem utilizada pelo Bispo das Forças Armadas em entrevista ao programa Política Mesmo da TVI, na passada terça-feira dia 17.

   É necessário ter em consideração que as afirmações de D. Januário Torgal Ferreira, para além de serem caluniosas, foram proferidas por alguém que pertence à Hierarquia da Igreja Católica. De um alto representante da Hierarquia da Igreja espera-se sempre que utilize decoro na linguagem, o que infelizmente não foi o caso nesta entrevista. A linguagem utilizada por D. Januário Torgal Ferreira, para além de indecorosa foi pouco consentânea com a posição ocupada por um prelado da Igreja.

  Foi com enorme espanto que constatei que D. Januário Torgal Ferreira, ao proferir um violento ataque verbal à actual governação PSD-CDS-PP e ao acusar o Governo de corrupto, chegando a compará-lo com o Estado Novo de Salazar, pretendeu claramente desculpabilizar os anteriores governos socialistas de José Sócrates ao afirmar: “O anterior Governo, que foi tão atacado, era composto por um conjunto de anjos, ao pé destes diabinhos negros que acabam de aparecer.”

   É muito sintomático que os portugueses não tenham assistido a idêntica postura deste prelado da Igreja aquando dos graves escândalos políticos e económicos dos dois últimos governos socialistas e à situação de bancarrota a que José Sócrates e os seus governos conduziram o país.

   Será que D. Januário Torgal Ferreira andava distraído quando tais escândalos ocorreram? E que leitura faz desses escândalos?

  E onde estava a voz da indignação de D. Januário Torgal Ferreira aquando da discussão e aprovação das leis socialistas contra a Família, como a lei do aborto e do pseudo-casamento homossexual, durante a governação de José Sócrates?

   Numa altura em que muitos católicos e a maioria dos portugueses precisavam de ouvir uma posição clara do Episcopado relativamente à discussão e aprovação de tais medidas, não me recordo de ter ouvido declarações reveladoras de uma posição firme e enérgica por parte de D. Januário Torgal Ferreira perante o conjunto de leis anti-Família que estavam a ser discutidas.

   Onde estava a voz de alerta do Bispo das Forças Armadas aos católicos perante a iniquidade das referidas leis?

   Que desconcertante e enigmática atitude, a que foi assumida por D. Januário Torgal Ferreira na entrevista dada à TVI ao intrometer-se em questões do foro político-ideológico que, em bom rigor, não competem a um bispo da Igreja Católica.

   Cada vez vai ficando mais clara, para muitos católicos e para os portugueses, a colagem de D. Januário Torgal Ferreira a posições ideológicas da esquerda e a sua intromissão em questões do foro político-ideológico, sobretudo quando se trata de dirigir invectivas contra membros de um governo de Centro Direita eleito democraticamente.

   Para D. Januário Torgal Ferreira o respeito pelo princípio dos governos eleitos democraticamente parece aplicar-se apenas aos governos oriundos da esquerda.

   A terminar quero expressar também a minha apreensão pela posição da Conferência Episcopal Portuguesa relativamente às afirmações de D. Januário Torgal Ferreira, através das declarações do seu porta-voz, o padre Manuel Morujão, à agência Lusa, que se limitou a afirmar: «São declarações a nível individual. Não está expresso o entendimento da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP)».

   Face ao grave teor das polémicas acusações proferidas por D. Januário Torgal Ferreira contra o actual Governo de Portugal e à linguagem pouco decorosa por ele utilizada na entrevista à TVI, seria de esperar uma posição mais firme e enérgica por parte da Conferência Episcopal e não uma mera demarcação, ou por outras palavras, um lavar as mãos como Pilatos face ao conteúdo das gravíssimas declarações proferidas pelo Bispo das Forças Armadas.