A reconstrução do Haiti poderá demorar décadas, dadas as enormes carências das infra-estruturas básicas que ficaram destruídas quase por completo em todo o território, sobretudo na capital, Port-au-Prince. Essas carências resultam em grande medida de uma ausência total de planeamento e de implementação de medidas de segurança destinadas às referidas infra-estruturas. Esta situação é agravada ainda pela enorme corrupção que, desde há longos anos, existe entre a classe política e dirigente do Haiti, facto que tem tornando a nação haitiana praticamente ingovernável.
Perante tais circunstâncias, compreende-se facilmente que um cataclismo com as proporções daquele que ocorreu no dia 12 de Janeiro, acabaria por ampliar de forma inevitável as condições já de si extremamente precárias em que vive grande parte da população haitiana.
A morte de mais de 150.000 pessoas, como consequência directa desta catástrofe natural, e as centenas de milhar de desalojados, puseram de imediato a descoberto a existência de enormes problemas de coordenação logística para o esforço de ajuda humanitária e de emergência, não só dentro do Haiti, mas também dos vários países e organizações que prontamente se disponibilizaram para prestar auxílio, quer através do envio de bens, quer de pessoal especializado para essa ajuda humanitária.
A tragédia natural que se abateu sobre este país deve merecer da parte de todos nós, uma atitude de compaixão por todos quantos foram atingidos directamente pela mesma.
Mas…lamentavelmente, e de forma quase invariável, perante situações desta natureza, certos políticos aproveitam cenários de tragédia como o do terramoto do Haiti para obter dividendos, com o intuito de reforçarem a sua imagem perante a opinião pública doméstica e também internacional, pretendendo assim atingir algum prestígio pessoal na cena política mundial.
É este o caso do Presidente Lula da Silva, que no Brasil já foi duramente criticado por alguns sectores políticos e por certos meios de comunicação, por ter disponibilizado de imediato o envio de homens e de bens para o Haiti, não tendo agido da mesma maneira face a recentes catástrofes naturais ocorridas em território brasileiro como no caso do aluimento de terras em Angra dos Reis e das fortes chuvas que já provocaram muitos mortos. Como referia Reinaldo de Azevedo no seu blogue: “como não contrastar a agilidade de Lula em mobilizar recursos em favor do Haiti com a lentidão paquidérmica para assistir os desabrigados das chuvas no Brasil e as famílias dos muitos mortos?”
O que praticamente nenhum meio de comunicação social nacional destacou foi a prontidão com que os Estados Unidos da América implementaram um plano de emergência para auxílio humanitário em território haitiano, sendo que dois dias após o terramoto estavam a enviar para esse efeito 3.500 militares da 82ª Divisão Aerotransportada.
Em face da total ausência de coordenação da ajuda internacional por parte do Governo do Haiti e perante o cenário de destruição de casas, estradas e até da torre de controlo e da pista e do aeroporto de Port-au-Prince, que ficou praticamente inutilizada, era necessário tomar medidas imediatas e concretas para iniciar as operações de resgate com celeridade. Segundo afirmava no dia 14 de Janeiro o porta-voz do Departamento de Estado Philip Crowley: “Assumimos a responsabilidade do controle aéreo. Temos pessoal preparado para ajudar nos descarregamentos….A boa notícia é que agora o aeroporto de Port-au-Prince está a funcionar a tempo integral. No entanto, é pequeno e muito limitado, com apenas uma pista e pouco espaço.”
Antes de terminar, quero realçar o facto de que, face a esta tragédia, a ajuda humanitária a ser desenvolvida pela União Europeia parece ainda não ter passado do papel e da declaração de boas intenções.
Perante uma situação como a que se está a viver no Haiti, é totalmente inaceitável que os países membros da União Europeia não tenham conseguido chegar a um acordo e tomado decisões em tempo recorde sobre medidas urgentes a implementar, o que é bem revelador da gigantesca burocracia existente nas instituições comunitárias, tornando-as assim virtualmente ineficazes perante cenários como este.