OS SOCIALISTAS E A PARTILHA DE CONSULADOS E EMBAIXADAS ENTRE LISBOA E MADRID
Fonte: www.iratxegarcia.es
ESTRATÉGIA ELEITORALISTA DE ANTÓNIO COSTA OU
FALTA DE SENTIDO DE ESTADO DE UM CANDIDATO A PRIMEIRO-MINISTRO?
Na passada sexta-feira, dia 19, os líderes socialistas de Portugal e Espanha assinaram em Lisboa um documento pelo qual se comprometem, caso venham a ser chefes de governo nos respectivos países, a “estreitar de tal modo os laços” que muitas políticas passarão a ser definidas e implementadas em comum.
Pedro Sánchez e António Costa comprometem-se a implementar: “um programa de reformas e políticas comuns para a promoção do desenvolvimento económico, social e de Cidadania Europeia”.
Entre as diversas áreas abrangidas por políticas comuns de futuros governos liderados por socialistas em Lisboa e Madrid estão a cultura, o mercado Ibérico, a cooperação entre regiões transfronteiriças, os transportes e a política externa europeia.
Relativamente à política externa, os dois líderes socialistas comprometem-se a partilhar consulados e embaixadas.
É fácil concluir que a partilha de embaixadas e consulados entre Portugal e Espanha traria sobretudo vantagens para o país vizinho em termos comerciais, mas também do ponto de vista estratégico.
Ou seja, Espanha passaria a beneficiar da situação privilegiada de muitos consulados e embaixadas portuguesas espalhadas pelo mundo, para dessa forma ir acentuando a sua posição estratégica em termos comerciais, e afirmando-se, em termos culturais, no espaço da lusofonia. Não podemos esquecer-nos do papel preponderante que desempenham as embaixadas de Portugal nos países africanos que formaram o antigo Império Ultramarino Português, em particular Angola, Moçambique e Guiné.
Além disso, os interesses estratégicos de Portugal e Espanha são, desde há séculos, divergentes e por vezes antagónicos, em resultado de um conjunto de factores determinantes, como a evolução histórica, política, e cultural, sobretudo a partir da época dos Descobrimentos Portugueses.
Segundo António Costa, a partilha de embaixadas e consulados traria vantagens para Portugal em termos de política externa.
Confesso que fiquei atónito ao tomar conhecimento das propostas de António Costa sobre política externa.
Em minha opinião, tais propostas, caso viessem um dia a tornar-se efectivas, seriam bem reveladoras da submissão dos interesses do Estado português em termos de política externa aos interesses do executivo de Madrid.
Estará porventura o candidato do PS a primeiro-ministro a sugerir a reedição de uma União Ibérica no que toca à definição de uma política externa conjunta para Espanha e Portugal, a ser implementada pelos governos de Lisboa e Madrid?
Se assim for, António Costa, revela uma submissão aos interesses estratégicos de Madrid e simultaneamente uma total ausência de sentido de Estado. Por conseguinte, parece-me não ter condições de algum dia vir a ocupar o cargo de primeiro-ministro de Portugal.