22 de abril de 2010

A morte de LECH KACZYNSKI, a “decapitação” da Elite Política e Militar polaca, e o futuro da Polónia no concerto das Nações europeias

Imagem da página online do jornal Gazeta Wyborcza


A homenagem às vítimas do massacre de Katin faz reviver na memória do povo polaco as atrocidades do regime comunista soviético

O recente acidente aéreo em Smolensk, perto de Katin, onde perderam a vida o Presidente da Polónia, Lech Kaczynski, a sua mulher, e grande parte da elite polaca, entre secretários de estado do Governo centrista de Donald Tusk, altas chefias militares, membros dos serviços secretos, o presidente do Banco Central, alguns deputados e membros da oposição, provocou uma enorme consternação em toda a Polónia.

Essa consternação ficou bem patente nas transmissões televisivas aquando da recepção dos restos mortais de Lech Kaczynski, à sua chegada a Varsóvia, e também durante a realização das cerimónias fúnebres oficiais.

Quase um milhão de pessoas estiveram nas ruas de Cracóvia para prestar uma última homenagem a um homem qualificado, até pelos seus mais irredutíveis adversários, como um “patriota” e um "homem recto”, como dava conta o jornal Público na quinta-feira, 15 de Abril.

O Primeiro-Ministro Donald Tusk, adversário político de Lech Kaczynski afirmou a propósito desta tragédia: “… foi a pior tragédia política nacional pela qual a Polónia passou desde a Segunda Guerra Mundial.” 

Com as eleições presidenciais à porta, marcadas inicialmente para Outubro deste ano e agora antecipadas para 20 de Junho devido à morte do Chefe de Estado, a reeleição de Lech Kazcynsky era vista como muito provável, devido à enorme popularidade que ainda conservava entre o eleitorado polaco, pese embora os ataques políticos e ideológicos de que era sistematicamente alvo, sobretudo com origem nalguns sectores políticos mais liberais de vários países da União Europeia.

Uma pesquisa de opinião divulgada já após a tragédia de Smolensk revelou uma viragem na opinião pública polaca, indicando uma queda de 11 pontos percentuais nas intenções de voto na Plataforma Cívica que sustenta o Governo de Donald Tusk, e a manutenção de 25% de intenções de voto no partido conservador PiS, para a formação de um futuro governo, partido liderado por Jaroslaw Kaczynski, irmão gémeo do falecido presidente.

Com posições firmes e ideias bem claras sobre o papel da Polónia no concerto das nações europeias, Lech Kazcynsky era considerado como um ultraconservador por muitos apologistas de uma Europa “laica e apátrida”. Segundo Kazcynsky, essa Europa implementa as suas políticas com base num “liberalismo abstracto” ao qual ele contrapunha a defesa da “alma Polaca”.

Kazcynsky era considerado nalguns sectores políticos europeus como um sério entrave ao avanço do actual modelo de integração Europeia.

A tragédia que se abateu sobre os polacos e que custou a vida a Lech Kazcynsky e a grande parte da elite polaca, fez ecoar de imediato na memória de todo o povo polaco um outro facto terrível. Refiro-me ao abominável massacre que foi perpetrado em 1940 em Katin, por ordem directa dos serviços secretos soviéticos e de Estaline, próximo do local onde, paradoxalmente, ocorreu o recente acidente aéreo, e onde Kazcynsky e a delegação que o acompanhava iam prestar homenagem às mais de 20.000 vítimas, entre oficiais e membros da elite polaca executados pelo regime comunista soviético.

Desde então e até aos dias de hoje, tem havido um manto de silêncio sobre este vergonhoso massacre perpetrado há 70 anos pelo regime soviético. Esse silêncio tem perdurado, em grande medida, em resultado de uma atitude colaboracionista de alguns sectores políticos ocidentais sempre diligentes em ocultar as atrocidades do regime comunista e se possível em votá-las ao esquecimento.

Após a morte de Lech Kazcynsky e de parte da elite política e militar polacas, já se especula nalguns círculos diplomáticos sobre qual será o próximo cenário político na Polónia.

Face ao actual e inesperado contexto político em que a Polónia se vê mergulhada, certamente que o povo polaco saberá dar uma resposta clara e inequívoca nas urnas, escolhendo para suceder a Lech Kazcynsky alguém que continue a defender, acima de tudo, os interesses da Polónia.

Aguardemos pelas eleições de Junho.

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