Face à indefinição ideológica e à prática política por vezes ambígua de Cavaco Silva, os sectores políticos e ideológicos de Centro Direita e de Direita reclamam a necessidade do surgimento de um candidato próprio.
A 20 de Outubro de 2005, Cavaco Silva anunciava no Centro Cultural de Belém a sua candidatura à Presidência da República.
Na altura, o anúncio foi recebido com entusiasmo e expectativa, sobretudo pelos partidos do Centro e Centro-Direita, e também por um amplo sector conservador de Direita, que viam na candidatura do Prof. Cavaco Silva uma espécie de lufada de ar fresco face à situação de desânimo que então se vivia em Portugal.
No discurso de apresentação de candidatura, Cavaco Silva justificava a sua candidatura: "por um imperativo de consciência" e para ajudar a “superar o sentimento de descrença e pessimismo” da sociedade portuguesa.”
É oportuno recordar que na altura desse anúncio, estava em funções o 1º Governo de José Sócrates, apoiado na maioria absoluta que o PS tinha conquistado recentemente nas legislativas desse ano. Face a essa maioria absoluta e ao receio da vitória de um candidato de Esquerda na eleição para a Presidência da República, os referidos sectores do Centro e da Direita apoiaram sem hesitar, Cavaco Silva. Ou seja, a candidatura de Cavaco Silva constituía, naquele contexto político, a esperança de que não haveria uma hegemonia da Esquerda nas três principais instituições garantes do regular funcionamento do Estado de Direito democrático, a saber, o Parlamento, o Governo e a Presidência da República.
Cavaco Silva foi eleito à primeira volta, tendo vencido com 50,54% dos votos.
Os sectores políticos e sociais que o apoiaram esperavam, desde logo, ver o candidato recém-eleito desempenhar o cargo de Presidente da República de acordo com as expectativas que tinham sido criadas, ou seja, de forma isenta, mas simultaneamente interventiva.
Numa apreciação global àquilo que tem sido o desempenho de Cavaco Silva, durante os últimos cinco anos, nas suas funções de Presidente da República, considero que tem ficado aquém das expectativas que criou nos portugueses que constituíram a base natural de apoio à sua candidatura a Belém.
Com efeito, é habitual ouvir em diferentes círculos políticos, económicos e sociais que apoiaram Cavaco Silva em 2005, críticas acerca de posições por vezes pouco enérgicas e corajosas relativamente a assuntos polémicos, no desempenho das suas funções como supremo magistrado da Nação.
Quando questionado sobre tomadas de posição claras que deveria ter assumido relativamente a questões de princípios, como por exemplo na questão da polémica lei do pseudo-casamento homossexual, é frequente ouvirmos o Presidente da República alegar em sua defesa o dever de imparcialidade. A meu ver, quando toca a questões de princípios, o dever de imparcialidade a que o Presidente da República está obrigado constitucionalmente, não o impede de forma alguma de emitir as suas opiniões e agir em conformidade, em defesa dos superiores interesses de Portugal e da sociedade portuguesa.
Em minha opinião, a promulgação desta lei, bem como de outras polémicas leis na área dos costumes como sejam a liberalização do aborto, as experiências com embriões, o divórcio a pedido e a educação sexual nas escolas, deixam bem patente aos olhos de muitos portugueses que Cavaco Silva defraudou parte considerável do seu eleitorado natural que esperava dele, medidas mais combativas e enérgicas face à promulgação deste tipo de legislação.
Perante uma prática política que se distanciou de algum modo daquilo que foram as suas propostas em 2005, é inevitável, mas ao mesmo tempo saudável que haja uma ruptura entre o sector conservador de Direita e o Prof. Cavaco Silva em vista da sua eventual candidatura a um novo mandato em Belém.
Nos últimos meses, algumas são as vozes que têm insistido na necessidade de surgir um candidato à Presidência da República claramente de Direita. Ontem mesmo realizou-se em Lisboa um jantar em Lisboa promovido por independentes e militantes do CDS/PP no sentido de incentivarem José Ribeiro e Castro a candidatar-se à Presidência da República, desafio que Ribeiro e Castro admite aceitar, no sentido de os sectores da Direita e de Centro-Direita poderem estar devidamente representados nessa eleição.
Aguardemos e vejamos o que nos reservam as próximas semanas relativamente ao anúncio de novas candidaturas à Presidência da República.
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